"As pessoas não estão acostumadas a conviver com a diversidade", diz Ivan Baron no primeiro dia de Reconecta

O primeiro dia do Reconecta, maior evento de inclusão e acessibilidade do Espírito Santo, reuniu mais de mil pessoas. O influenciador e ativista anticapacitista Ivan Baron brilhou ao apresentar palestra sobre sua trajetória e as formas como a sociedade pode fazer para integrar as pessoas com deficiência. O encontro, que vai até quinta-feira (7) no TRT-ES, das 14h às 19h, conta com programação vasta com palestras, exposições, oficinas, entre outros.

A abertura ficou por conta da procuradora do Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo Fernanda Barreto. Para ela, a palavra que define o Reconecta é "gratidão". "Estamos na terceira edição presencial e nosso objetivo é trazer a questão da acessibilidade e inclusão para o centro do debate na sociedade. Nestes quatro dias vamos falar de acessibilidade, capacitismo, preconceito e inclusão. Vamos todos e todas transformar a realidade, cada um fazendo a sua parte. Apenas unindo os esforços de todos é que vamos romper essa barreira atitudinal".

Também estiveram presentes entidades parceiras, como a Federação das Apaes do Espírito Santo (Feapaes-ES), governo do Estado, Prefeitura de Vitória, Confederação da Pessoa com Deficiência (Condef-ES).

O presidente da Feapaes-ES, Vanderson Pedruzi, lembrou que mesmo tendo legislação no país, a sociedade sonega os direitos das pessoas com deficiência. "Falar de inclusão é importante. Precisamos construir caminhos e a inclusão é uma prática que surge com empatia e reconhecimento de direitos. O Reconecta é fundamental para que esse caminho comece a ser percorrido. Todo mundo se beneficia de uma sociedade mais igualitária".

Luiz Anhaia Vasconcelos, presidente do Confederação da Pessoa com Deficiência (Condef-ES), frisou que o evento vai além da oferta de postos de trabalho. "O encontro é um espaço de visibilidade para que as pessoas com deficiência se mostrem como uma potência, é um evento que chama a atenção da sociedade para que as vejam como pessoas que devem ter seu espaço garantido".

A secretária de Assistência Social de Vitória, Cintia Schultz, destacou que pessoas com deficiência não podem ficar na invisibilidade. "Elas precisam de tudo o que qualquer ser humano precisa e isso tem de ser reverberar na prática todos os dias. A gerente de políticas públicas para Pessoas com Deficiência da Secretaria de Direitos Humanos do Espírito Santo, Maristela Lugon, apresentou alguns projetos desenvolvidos pelo governo estadual. "Trabalhamos para ter o maior número de pessoas com deficiência no Estado. Temos programa de inclusão, intérpretes de libras para os eventos promovidos pela secretaria e estamos implementando um projeto de capacitação para o setor de Recursos Humanos das empresas para que elas saibam como contratar  pessoas com deficência".

Valério Heringer, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-ES) evidenciou a importância do respeito aos direitos humanos. "O Reconecta é um verdadeiro programa de inclusão. Há balcão de empregos, palestras, cursos, debates, oficinas, exposições de arte e tudo o que está no evento é um exemplo para todos. Estamos muito felizes de o evento estar sendo no TRT-ES".

Para finalizar a mesa, o procurador-chefe do MPT-ES, Estanislau Tallon Bozi, agradeceu a presença de todos. "O evento está lindo e quero parabenizar à promotora que está à frente deste evento, Fernanda Barreto, e agradecer a todos que são nossos parceiros e que fazem o encontro acontecer. O evento foi concebido lá atrás e hoje colhemos frutos dessa iniciativa. Estamos muito satisfeitos com o espaço que alcançamos e queremos que os objetivos se reverberem cada vez mais".

Conferência

O influenciador e ativista anticapacitista Ivan Baron, de 25 anos, subiu ao palco ovacionado e retribuiu contando sua história, que começou quando ele ainda era criança. "Minha deficiência não me atrapalha, ela me impulsiona. Vou contar minha história... Na infância tive meningite bacteriana, o que me deixou com paralisia cerebral. O médico disse que eu não falaria, nem andaria mais para o resto da minha vida. Mas meus pais não desistiram, iniciaram meu tratamento de reabilitação. Durante toda a vida fui aluno de escolas regulares, mas nunca me senti incluído, pois era excluído das dinâmicas. Meus colegas não tinham culpa porque não foram ensinados a conviver com pessoas com deficiência, nem as professoras. As pessoas não estão acostumadas a conviver com a diversidade", destacou.

Mesmo com suas dores, ele seguiu seu caminho. Fez faculdade, se formou em pedagogia e hoje atua como influenciador. "Faço um trabalho de formiguinha todos os dias. Luto para que caia o tabu de que as pessoas com deficiência são boazinhas ou incapazes. Essa imagem precisa ser desconstruída. Tenho um propósito que é o de empoderar crianças e adolescentes para que eles possam ocupar o espaço que elas quiserem".

 

Publicado em 07/12/2023.

Imprimir